quarta-feira, 25 de março de 2009

Descansa em paz



Pagar para me cortarem o cabelo é um conceito relativamente novo para mim. Até há alguns anos eu recebia sempre que me cortavam o cabelo.
Desde que me lembro, o meu avô foi barbeiro, e dava-me sempre qualquer coisa quando lá ia. Ao início uns tostões, depois uns poucos escudos e por aí adiante aumentando com a inflação ou com a minha idade, conforme a que andasse mais depressa.
Lembro-me de ainda não ter chegado à barbearia e já na rua se escutava o som da tesoura que não parava nas suas mãos. Era sinal que “tinha gente”. Eu ia ter de esperar…
Homem de poucas palavras, não deixava no entanto passar muito tempo depois da minha chegada para começar a assobiar à porta da barbearia ou nos fundos da mesma, junto a umas velhas e já inutilizadas escadas que em tempos tinham dado acesso ao primeiro andar. Era o sinal para a minha avó descer para ver o neto.
Embora aparentasse ser uma pessoa fria, o seu sorriso reflectido no espelho da barbearia traia-o, naqueles momentos em que lhe dizia que tinha passado num qualquer exame da escola, ou quando na minha juventude teimava com ele para me deixar o cabelo mais comprido.
Mais ou menos na mesma altura em que comecei a ter barba relativamente digna desse nome, que ele cortava com uma navalha, passando depois com um pouco de álcool que quase me fazia saltar da cadeira, a idade começou a tremer nas suas mãos.
Antes tão firmes, tremiam agora de uma forma que começou a fazer escassear os clientes, resistindo apenas os “habituais”, entre os quais eu, que tinha dificuldade em disfarçar o meu fascínio com a forma como aquela tremedeira toda parava como por magia, quando a mão se dispunha a dar uma tesourada no cabelo, ou uma “escanhoadela” na barba.
Os anos passaram e com o início da minha vida profissional, comecei a sentir algum embaraço quando chegava o momento de ele me chamar “à parte” para me dar a “notita”. Começou a não fazer muito sentido. Afinal eu já “ganhava o meu”!
Um dia disse-lhe que não queria. Que não precisava e que já tinha dinheiro…
A mágoa que nesse momento lhe encheu os olhos fez-me perceber que afinal eu tinha desde sempre entendido aquilo ao contrário. Afinal, naquele gesto havia algo muito mais importante. Havia a discreta alegria de dar algo a um neto. A alegria de ser avô.
Nesse dia aprendi que para ele eu seria sempre o “João Carlitos”. E que por trás daquela maneira de ser aparentemente distante, havia muito mais sentimento do que se poderia pensar.
Trabalhou até não poder mais. Até as pernas já não suportarem o seu próprio peso. Foi hoje para a sua última morada.
Adeus “Avô Chico”!
Deixas saudades…

segunda-feira, 23 de março de 2009

Provedor das Birras



Andam os nossos políticos muito entretidos a fazer birras. Embirram por causa de um tal de "Provedor de Justiça".
Quando eu era pequenito por vezes também fazia birra. Mas normalmente era porque não queria comer ou porque não queria fazer os trabalhos de casa.
Mas conheci outros meninos que faziam birra quando não ganhavam a jogar à bola ou quando queriam ser o Cowboy e só o deixavam ser Índio. Eram um bocado "zucrinas" esses putos e acabavam sempre por brincar sozinhos porque ninguém estava para os aturar.
Era o que devíamos fazer a esta malta. Deixa-los a brincar sozinhos aos "provedores" e ia-mos à nossa vida.
Mas não dá. Eles não nos largam. Andam doidinhos a ver se nos convencem a votar neles o que é bastante complicado.
Este sistema todo de eleições devia ser repensado. Isto de ter de lá ir e votar em alguém, tendo em conta as opções, torna-se algo muito complicado. Penoso. Masoquista até.
Parece-me que seria muito mais apropriado e mais ao jeito português se pudéssemos ir lá votar contra alguém. Ainda assim não seria fácil escolher o pior, mas pelo menos haveria algum gosto no acto.
Estou certo que a abstenção iria diminuir.
PS: Já agora, para que raio serve um "Provedor de Justiça"? Alguém me pode dizer: "A minha vida está muito melhor desde que fulano é provedor de justiça" ou "Com sicrano a provedor de justiça a minha mulher já não me bate" ou "com este provedor de justiça os advogados estão todos a suicidar-se"??
Pois... foi o que eu pensei!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Direito de anti-manifestar



O Showmen que temos por primeiro-ministro, disse aqui à uns dias que os sindicatos estavam sob a influência e controlo dos partidos de esquerda. É curioso que ninguém tenha notado que isto só revela que o governo está sob influência do patronato, mas adiante... Ninguém verdadeiramente contestou esta realidade.
Eis agora que a malta da CGTP-PCP está muito indignada contra um anuncio onde, segundo eles, se atenta contra o fundamental "direito à manifestação".
Então e o direito de se manifestar contra as manifestações? Porque é que alguém que se pronuncia contra o excesso de manifestações deve ser calado? Não está também ele a exercer o direito de expressar a sua livre opinião? Ou as opiniões só são livres de serem expressadas se forem a favor destes senhores que se julgam donos da liberdade?
Já dizia a minha avó que "tudo o que é demais é moléstia" e realmente o excesso de manifestações e greves só contribui para que elas tenham menos impacto.
Acho que a banalização de um direito que realmente é fundamental, não o prestigia, nem a quem dele abusa.
Em ano de eleições vamos assistir a muitas que por isso mesmo se vão tornar tão cansativas e vazias de conteúdo como os discursos dos políticos.
Haja paciência...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Se andarem de mota, não usem capacete



Depois de recomendar que não se use preservativo, pois isso só agrava o problema da transmissão do vírus da SIDA, sendo preferível a abstinência, a próxima recomendação do Papa será para os motociclistas deixarem de andar de mota ou em caso de a sua relação com a mota ser reconhecida pela Igreja e apenas para fins reprodutivos, que não usem capacete, pois isso só vai agravar a estatística dos acidentes.